terça-feira, 22 de dezembro de 2009

sem pensar na gula


Se você está sempre comendo grandes quantidades em pequenos intervalos de tempo, mesmo quando não tem fome; se nas refeições come além do limite da saciedade e até sentir-se mal; se ataca a geladeira de forma voraz e constante; e se, depois, arrepende-se disso tudo, você pode estar com compulsão alimentar, transtorno que atinge cerca de 12,5 milhões de pessoas no Brasil, independente de sexo, raça ou nível social.

Especialistas associam a compulsão alimentar a algum tipo de compensação de perdas — depressão, baixa estima, ansiedade, raiva, solidão, entre outros. O compulsivo tenta substituir por comida algum tipo de prazer perdido.

Segundo o psicólogo cognitivo-comportamental Diego Macedo Gonçalves, com tratamento adequado, a metade dos compulsivos consegue se livrar dos sintomas. Não existe uma cura propriamente dita, mas algumas opções podem surtir efeito positivo, entre atividades físicas, artísticas e lúdicas.


E é justamente isso o que propõe o Spa Trilhas, em atividade a partir de janeiro de 2010, no Jiqui Country Club, em Nova Parnamirim. Segundo Ilana Félix, sua administradora, o spa não tem a preocupação básica com a perda de peso em demasia, nem pretende promover um choque drástico de mudança de hábitos. “É um trabalho de reeducação alimentar, física e comportamental. Mas é claro que também se perde peso. A nossa dieta fica entre mil e mil e cem calorias diárias”, diz.
Na programação, além de atividades físicas como caminhadas, alongamentos e hidroginástica, também estão previstas aulas de dança flamenca e street dance, sessões de terapia cognitiva, exibição de filmes, oficina de bonsai e outras recreações. “Dessa forma, a pessoa compulsiva vai desviar a atenção dos maus hábitos alimentares. Você deve substituir esse prazer de comer demais por outro que seja saudável”, comenta Ilana Félix.
Outras informações sobre o Spa Trilhas: 3208 0872 / 8885 2004.

Compulsão alimentar pode levar à depressão
O psicólogo Diego Macedo Gonçalves, especialista em Psicologia Cognitiva-Comportamental e Doutor em Psicobiologia, esclarece que a compulsão alimentar está associada a alguns transtornos como anorexia e bulimia. Deve-se diferenciá-la, porém, da Compulsão Alimentar Periódica, essa sim, mais um transtorno alimentar cuja principal característica é o impulso de comer em intervalos de duas em duas horas, podendo a pessoa ingerir até 2 mil calorias de cada vez. “E não precisa ter fome para isso”, comenta Diego, acrescentando ainda que os impulsos também podem estar relacionados a baixos níveis de serotonina no organismo.“A pessoa come o que vê pela frente, feijoada fria com queijo, essas misturas... É o que chamamos atacar a geladeira. Só que depois disso a pessoa se culpa. Por isso, há uma associação grande da Compulsão Alimentar Periódica com a depressão”, diz o psicólogo.

Ainda de acordo com Diego Gonçalves, a maioria dos portadores da CAP nutrem a expectativa de ter um corpo perfeito, só que quando comem em demasia há uma quebra do que esperam para si e acabam adotando o seguinte raciocínio: “Ah, já que comi mesmo, agora vou comer mais”.“É o pensamento do ‘tudo ou nada’. A pessoa cria ciclos de expectativa, comer em excesso, culpa e depressão”, aponta o psicólogo, aconselhando aos compulsivos não manter estoque de alimentos em casa. “As pessoas ansiosas têm maior tendência à compulsão alimentar, mas o problema não tem correlação nenhuma com sexo ou raça.”Segundo dados fornecidos pelo psicólogo, a compulsão alimentar atinge 2% da população geral, e 30% das pessoas obesas.
Confinados em um spa

Se é difícil viver com compulsão alimentar no cotidiano, sem muitas restrições, além daquelas da própria mente do compulsivo, imagine então conviver com o problema estando confinado em um spa! Combater a compulsão alimentar e seus impulsos é um dos principais objetivos do Spa Trilhas, no Jiqui Country Club, em Nova Parnamirim. Para desviar o foco de quem é compulsivo, ou não, são realizadas, além de atividades físicas, aulas de artes, jardinagem, bonsai, fotografia, dança, além de promover um contato maior com a natureza.

O psicólogo Diego Gonçalves participa do spa, onde faz duas intervenções para mostrar aos spazianos como funciona a mente de quem come de forma compulsiva e como livrar-se desse transtorno. “Eles têm que ser trabalhados durante todo o processo de confinamento. Mostro que eles podem mudar a cabeça, o pensamento, mudar o foco de atenção.”Segundo Diego, as várias atividades fazem com que a pessoa desvie o foco da comida e sinta menos fome. “As pessoas que fazem regime têm uma expectativa muito alta; querem perder dez quilos no mês. Mas é melhor traçar metas mais realistas, mais palpáveis, pois com expectativas menores, ao aparecer os primeiros resultados, fica mais fácil se tratar.”O psicólogo comenta que 50% das pessoas conseguem uma remissão total do transtorno alimentar, ficando sem sintomas; 30% conseguem uma remissão parcial; e 20% não alcançam nenhuma melhora. A adesão completa às instruções passadas no spa é fundamental para obter resultados positivos.

Também são desenvolvidas técnicas de relaxamento, visando a reinterpretação do pensamento. “Nossa cabeça é uma máquina de criar hipóteses; e, geralmente, acreditamos no que pensamos. Mas o ser humano tem dificuldade de focar duas coisas ao mesmo tempo, daí a importância dessas atividades.”
Atividades lúdicas

A oralidade está relacionada com alguma perda, com algo que não se tem ou não se teve em algum momento da vida. A análise é da arte-educadora Bibiana Andrade Estevez, que também integra a equipe do Spa Trilhas. Ela acredita que através da arte é possível liberar a sensação de frustração, gerada pela compulsão, de uma forma mais saudável. “A pessoa estando em harmonia com o seu corpo passa a respeitar mais seus limites. Queremos servir de canal para trabalhar essas emoções sem que necessariamente seja através da comida, do alimento.”A proposta de Bibiana é trabalhar a dança de forma holística. No spa, desenvolve aulas de dança flamenca como forma de melhorar a auto-estima das confinadas. “As mulheres sofrem vários tipos de quebras sociais no mundo de hoje. Usamos a dança para harmonizar essa nova mulher”, alega a arte-educadora e bailarina, enfatizando que o flamenco ajuda a fazer com que sua alunas se sintam mais fortes, sensuais, mais decididas e que se assumam de uma forma mais segura. “Ajuda a ter uma relação mais harmoniosa com o espírito.” A professora de dança comenta ainda que o ambiente do spa, com muitas árvores, ajuda a afastar o estresse e suas consequências. “A arte também ajuda a relaxar. As pessoas estressadas estão muito ansiosas com o futuro e querem consertar o passado. A dança ajuda a pessoa viver o presente. Conhecendo os limites do seu corpo é mais fácil se preservar e começar a ter mais qualidade de vida.”

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